quarta-feira, maio 24, 2006

Crónica de um contacteante...

Estava eu a explorar o site do Programa contacto, mais concretamente a parte q diz respeito à Finlândia, quando descobri esta crónica do João Lopes, um C7 que estagiou em Helsinki há dois anos.
Tomei a libertade de a transcrever.

Helsínquia, 05 de Outubro de 2004

CRÓNICA DO ESTRANGEIRO

Cheguei a Helsínquia no final de Janeiro, por volta das dez da noite. Lá fora estava escuro, e tudo parecia construido no meio de uma floresta. O aeroporto apresentou-se com toda a organizaçao e tecnologia que representa o país, e num piscar de olhos estava eu de malas na mao à procura de um transporte para o centro da cidade. Estavam 10º negativos. Após ser ignorado e despachado repetidas vezes pelos motoristas de autocarro, na tentativa de obter informaçoes para chegar ao centro da cidade, lá consegui apanhar um que me levou para onde eu queria. Ao desembarcar vejo um grupo de africanos a pontapear um rapaz em plena praça pública. Acabava de presenciar algo que contrariava todas as estatísticas que havia recolhido, afinal de contas, não estava num país completamente sereno. O chao estava coberto por uma camada de gelo, onde apenas um bom patinador era capaz de andar sem cair, e perante este cenário fui obrigado a apanhar um taxi para percorrer apenas 500 metros. O sol espreitou durante 3 horas, por de trás de uma espessa camada de nuvens, voltando a esconder-se sem conseguir iluminar a cidade ou fazer subir a temperatura. A noite parecia interminável, a cidade despovoada e as pessoas deprimidas. Tinha a impressao de que Portugal estava muito longe, quase como noutro planeta, que as pessoas nao disfrutavam da vida, mas apenas tentavam sobreviver trabalhando e refugiando-se em casa à espera do dia de amanha. Tudo era programado antecipadamente, o vento parecia feito de laminas, e os transportes publicos chegavam cronometricamente à hora marcada, para nao se correr o risco de perder a ponta dos dedos ou nariz, só pelo facto de existir uma descincronizaçao do sistema. Foi com imensa sorte que arranjei um apartamento na manhã seguinte, e uma semana mais tarde mudei-me para lá. Estava situado no bairro mais difamado da cidade, onde se concentra a enorme comunidade de alcoólicos crónicos, que vagabundam pelas ruas o dia todo, formando bandos que se arrastavam e tropeçam à procura de algo para beber. Ir ao supermercado foi uma aventura durante os primeiros meses, perdendo horas para encontrar qualquer coisa. Querer comprar farinha e acabar por trazer açúcar, ou comprar natas e trazer soja, foram apenas algumas das dificuldades de comunicação que tive que ultrapassar neste país cuja língua não se parece com nada. No trabalho encontrava um refúgio, falava-se a mesma língua projectual, e a minha prestação era reconhecida logo após o início. Mas foi com enorme dificuldade que passei meses sem falar com ninguém no local de trabalho. Os finlandeses chegam e não cumprimentam, saíem sem se despedir, e raramente conversam, mas quando o fazem é em finlandês. Por exemplo, ao meu lado trabalha um arquitecto da minha idade, que apenas falou comigo durante 2 minutos nos ultimos 8 meses. Durante uma entrevista a um jornalista inglês, bastante conhecido, que habita na Finlândia há 30 anos, perguntaram-lhe o que é que não gostava na Finlândia. Ele respondeu: a localização, o clima e as pessoas. Isto representa bem as características deste país. No mês de Março tomei coragem, e fui a uma sauna pública para experimentar o famoso banho no mar congelado (A sauna é talvez o maior ícone da cultura Finlandesa, e associado a este momento de laser existem duas actividades: o banho no lago congelado e chicotear o corpo com um ramo de folhas de Birtch.), mas quando entrei na sauna, fiquei perplexo com o facto de ser culto estarem todos nus a chicotearem-se com um ramo e a beber cerveja sem parar, numa temperatura insuportavelmente superior a 120ºC. Não foi preciso mais de 2 minutos para eu ser obrigado a sair da sauna, mergulhar no buraco que tinham feito no gelo, e voltar para a sauna afim de repetir umas quantas vezes esta cerimónia.
Naquela altura do ano a luz solar permanecia mais 5 minutos a cada dia que passava, e no seu apogeu, em finais de Junho, iluminava o ceu permanentemente. Esta rápida evolução na duração do dia deixa qualquer um desorientado, sobretudo porque não existem persianas nas janelas, e a luz solar entra em casa às horas menos apropriadas. Eu tinha o hábito de começar a preparar o jantar quando anoitecia, mas um dia dei por mim a jantar à 1:30 da manhã, mas foi quando me apercebi que estava a ir à casa de banho ás 3 a.m., com os óculos escuros postos que tomei consciência que algo estava realmente errado. Passaram 2 meses sem se ver as estrelas. Todos os dias cruzava um local do meu bairro, e ouvia uma voz vinda de uma sarjeta que anunciava as horas de partida de um transporte, e durante meses eu pensei que essa voz vinha do metro, apesar da estação ficar um pouco longe daquele local. Meses mais tarde uma amiga minha traduziu a placa que existe ao lado da sarjeta, que eu pensava estar relacionada com um aviso para não colocar nada na sarjeta, e qual foi o meu espanto quando descobri que se tratava do único monumento do meu bairro. Um altifalante numa sarjeta que anunciava a partida de um avião para Amesterdão. Quase toda a gente vive sozinha, em apartamentos com pouco mais de 20 m2, e dedicam o seu tempo ao trabalho ou a pequenas actividades como a musica ou o desporto. O custo de vida na Finlandia é bastante elevado, e nao há muitas actividades de lazer disponiveis ao público, talvez seja por isso que se tornam introvertidos e elejam o culto do alcool como uma prática diária e que lhes permite se extroverter. Na minha opiniao, esta experiencia na Finlandia é sobretudo uma liçao organizacional, de gestao dos principios básicos que muitas vezes deixamos de dar valor, e sem duvida, uma aventura que explora um povo nordico de caracteristicas bem peculiares, e que por vezes nos surpreende de uma forma muito positiva.

Por: Joao Correia Lopes


Achei piada como as nossas experiências têm tantas coisas em comum (até acho que o bairro onde moramos é o mesmo!). Obrigada João.

2 Comments:

At 12:58 da tarde, Blogger NoKas said...

bem, este post n estava aqui ainda agora! n o posso ler já, pk tenho k ir! mas voltareiiiii


bacci

 
At 2:43 da tarde, Blogger Tiago Carneiro said...

Eu conehci o João na noite do jantar com antigos contacteantes. Ficou na minha mesa. E não lhe liguei muito pk pensei: "Eles não me vão mandar outra vez para os paises nórdicos! Eu já la vivi e na minha area vai tudo parar a SF. Deixa-me ir ver se anda aqui alguém de SF"... Mais valia ter estado calado LOL

 

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